As mãos de Dri estavam mais frias que o de costume, e Tito já sabia que aquilo não era um bom sinal. De mãos dadas enquanto caminhavam pela calçada, ela falava pouco, menos ainda que o de costume. Ele só torcia para que a cafeteria chegasse logo e o salvasse daquela aflição.
Tentou perguntar-lhe sobre o clima, sobre seus cachorros, sobre a prova que fizera na última terça-feira; todas foram respondidas sem que houvesse muito gancho para continuar qualquer tipo de diálogo. A paciência de Tito esvaziava-se a cada passo, junto com sua esperança.
Mais alguns minutos de semi-silêncio, eventualmente ocupado pelo som dos tênis do casal sobre o concreto, e a loja despontou na curva da esquina a frente. Em seu último ato desesperado, tentando selar aquelas mãos dadas com sentimentos que talvez não estivessem mais ali, Tito ousou: “Dri, amo você!”, beijou a mão da namorada e fitou seus olhos, que miravam o horizonte (ou talvez a cafeteria).
Aqueles microssegundos de silêncio perfuravam os tímpanos do jovem vagarosamente. Em pé ali, aguardando abrir o semáforo da última rua antes de seu destino, o coração subiu-lhe à garganta. Ela sempre respondia! Ela sempre respondia… Ela tinha que responder; e respondeu com uma lágrima solitária que ameaçou escorrer por aquele rosto liso e suave, contido rapidamente pelos dedos magros da moça. Os olhos não mudaram o foco por um instante.
Já sentados à mesa da cafeteria, finalmente ela olhos nos olhos de Tito. Ele não a reconhecia mais. Não via a garota que esteve com ele nos últimos três anos. Ao ver os lábios finos de Dri esboçarem sílabas, o rapaz a interrompeu: “Não diga nada, por favor. Suas palavras serão navalhas arremessadas contra meus sentimentos, agulhas penetrando ferozmente esse pobre diabo que não sabe como vai viver sem você. Eu já entendi o que se passa… Mas… Por favor… Me dê um último beijo… Me dê algo a que eu possa me apegar nos próximos meses em que fatalmente passarei cada momento juntando os pedaços do que sobrará de mim…”
“Não faça isso comigo, Tito. Aliás, não faça isso nem consigo mesmo. Eu não quero registrar que a última coisa que senti por ti foi pena…” Ela levantou-se antes que um garçom viesse servi-los. Segurou carinhosamente a cabeça do rapaz e lhe deu um beijo afetuoso na testa. Partiu deixando como últimas palavras “Você ficará bem”. Ele, sem reação, sentiu aqueles lábios como brasas incandescentes marcarem-lhe a testa. Acompanhou visualmente os passos de sua recém-ex-namorada desde a mesa até sumir na curva da esquina distante.
Não há quem possa escrever o que ele passou nos minutos seguintes. Arrisco dizer que nem todo ar do mundo traria-lhe a respiração de volta, nem o fogo de cem sóis aqueceria-lhe no deserto nevado onde sua alma foi parar, nem todas as pessoas do mundo reunidas tirariam dele a sensação de solidão que o assolou naquele exato instante. E, pela primeira vez em sua vida, Tito chorou.