Eu já estava querendo voltar para o hotel quando uma voz fina e sutil chamou minha atenção com um pedido:

– Moço, posso deixar minhas coisas do seu lado para dar um mergulho?

Em plena quinta-feira, com menos de duas horas sol disponíveis e totalmente fora de temporada, creio que eu era a única opção que ela tinha naquela praia. Já era meu costume tirar toda a tarde desse dia da semana para descansar, uma vez que trabalhava aos fins de semana também. Acenei com a cabeça apenas, dando mais importância ao fato da minha lata de cerveja estar no último gole. Virei para trás e, com um movimento típico de quem conhece a linguagem dos garçons, ergui a latinha vazia com uma mão e girei o indicador da outra pedindo a próxima rodada ao rapaz atrás do balcão.

Fiquei momentaneamente preso naquele ponto da faixa de areia, mas de maneira alguma incomodado por estar em uma praia paradisíaca em pleno Nordeste, regado a cevada e porções de camarão e peixe frito, a brisa marítima refrescando o calor úmido típico da região. Impossibilitado de me retirar, passei a observar a jovem alternar braçadas no mar bastante calmo, afastando-se vagarosamente em direção ao fundo.

O sol estava bastante baixo e começava a tomar um tom mais alaranjado. O reflexo do céu na manta de água coloria o oceano, e as marolas causadas pelo vento geravam pontos de luz que piscavam aqui e ali, como um prenúncio do céu estrelado daquele lugar do Brasil. A garota já se dirigia de volta, nadando bem menos intensamente do que no início.

Não tive tempo de terminar a terceira latinha, contando de quando ela tinha me abordado, antes que a visse caminhar em meu sentido ainda com água indo e vindo na altura de seus tornozelos. Não fiz questão de disfarçar que a media, mas não havia maldade ou perversão em meus olhos; tratava-se apenas da mais simples observação de um ícone a mais da paisagem.

Suas medidas não eram de uma modelo, tampouco de uma dessas dançarinas de funk ou axé; ela era algo mais. Tinha a pela levemente morena e as pernas grossas, com coxas quase gordas. O quadril um pouco largo acompanhava o desenho que vinha de baixo, mas o biquíni distribuía tudo muito bem. A cintura afinava na medida ideal e, na barriga comum de quem não malha, mas não tem pneus, um pingente discreto acertava-se no umbigo. Os seios eram pequenos e mais uma vez a peça de banho escolhida sabia dar conta de decorar a falta de volume que a natureza propiciou. A cada passo, a dança que o corpo fazia sem parecer exagerado me hipnotizava; uma naja sorrateira que sai de trás de uma pedra e faz um vai-e-vem lateral e ritmado antes de abocanhar sua presa. Não reagi a sua aproximação até ela estar próxima o suficiente para pegar suas coisas.

– Obrigada, moço!

O transe se interrompeu no segundo seguinte. Quando me dei conta que não havia tirado os olhos dela, envergonhadamente mirei de volta o mar e devolvi um “Por nada!” desajeitado. Com a visão periférica, vi que ela deu pouca importância à minha resposta; com a mão esquerda pegou a bata, o short e o chinelo da areia e a mão direita objetivamente e sem pressa colocou-se sobre minha nuca. Quando me virei para entender o que se passava, ganhei um beijo longo, malicioso, despudorado. Em seguida, ela afastou o rosto do meu e abriu um sorriso. Que rosto! Que sorriso!

– Eu disse ‘obrigada’! – sua voz era quase um sussurro.

Inerte, deixei cair sem querer a lata de cerveja com pouco menos da metade do seu conteúdo. O corpo não respondia a nenhum comando, e a única coisa que se mexia era meu… Bom, eu estava de bermuda, então ainda deu para esconder a evidência.

– De nada! – tão sussurrante quanto ela.

Com um riso que mais parecia um soluço agudo, ela se pôs de pé e se afastou com seu rebolado de naja. Nem se deu ao trabalho de olhar para trás, enquanto eu a observava de costas e, agora sim, com muitas más intenções. O garçom assistiu a toda aquela cena sem demonstrar espanto, esfregando o pano sobre o balcão vazio. Olhei-o e somente consegui repetir o movimento para pedir mais uma.