Os raios de sol cutucaram os olhos de Rosa logo cedo em pleno sábado. “É mesmo, hoje é sábado!” pensou ela, abrindo um sorriso antes de abrir os olhos e buscar a nuca de seu marido. Levou o braço lentamente às costas dele, acariciando-o em círculos e encerrando com um beijo em sua orelha. Sebastião acordou com esse chamego da mulher, deu-lhe um beijo rápido na boca da mesma forma que fazia todas as manhãs, completou com um “bom dia, amor” e correu para o chuveiro.

Rosa pensou em acompanhá-lo até lá por um segundo, mas lembrou-se que hoje era dia de futebol com os amigos e o banho não durava nem cinco minutos. De fato, antes que ela pudesse terminar de se alongar e ajeitar a cama, ele já havia saído de cueca do banheiro perguntando como uma vitrola programada onde estava cada peça de sua roupa de jogo. Esposa dedicada, Rosa sempre puxava pela memória onde havia colocado o fardamento e indicava com um movimento da cabeça os locais. Vestido e pronto para sair, Sebastião despediu-se com mais um beijo expresso e a frase semanal “É por isso que te amo, minha flor!”, pegou a mala com a toalha e a chuteira e saiu. O bater da porta anunciava o início do sábado dela.

Há mais de cinco anos, quando precisou fazer uma cirurgia para retirar o útero, eles não faziam sexo. Antes de se apaixonar pelo sábado, Rosa sofreu bastante com isso, sentindo-se culpada por não ser mais atraente para seu marido e até perdoando uma traição confessa dele. Nem sua pele lisa, da cor mais brasileira que o bronzeado pode exibir, nem suas curvas femininas (um pouco aumentadas por aquelas gordurinhas do cotidiano, é verdade) que tanto chamaram a atenção do jovem com quem viria a se casar eram suficientes para ele levantar sua camisola e tomá-la para si, como fazia nos primeiros meses da vida a dois. E mesmo que a paixão pelo sábado tenha começado por acidente, ela a cultivava com carinho.

Como toda semana, ela caminhou até a sala ainda de camisola e abriu a janela da sala do apartamento. Fechou a cortina, mas deixou um espaço para a luz do sol entrar e iluminar apropriadamente o ambiente. Foi à lavanderia, pegou sua toalha e, na volta, observou de canto de olho que o Roberto já se posicionara em sua própria janela, no prédio à frente, tentando ser o mais discreto possível, sem sucesso.

Entrou no banheiro, escorregou ao chão o pijama de algodão semitransparente que lhe cobrira à noite, puxou a cortina de plástico que dava acesso ao chuveiro, ligou-o e iniciou seu banho, com a calma que uma preparação merece. A primeira providência foi molhar os cabelos: ondulados, grossos e volumosos, negros como seus olhos. Enquanto passava a mão por eles e retirava a água do rosto, viu pelo basculante que o Thiago, da unidade abaixo da de Roberto, também já aparecera. Sorriu e continuou a se lavar.

Deslizou o sabonete pela pele enquanto buscava sinais de velhice ou feiura, como rugas, manchas, estrias, celulite e toda a sorte de “defeitos” que as mulheres sempre tratam de encontrar em si. Apesar de achar que engordara um pouco desde a semana passada, nenhum sinal novo foi visto, apenas os de sempre.

Já limpa, ensaboou as pernas, pegou a lâmina e começou a se depilar. Elas tinham que estar perfeitamente lisas! Isso incluía não se cortar no processo, o que fizera nas primeiras vezes, quando suas mãos tremiam de nervosismo e ansiedade. Hoje, contudo, decidiu que iria além: rasparia seus pelos íntimos do jeito que vira em algumas revistas masculinas, mas sem tirar tudo. “Se eles gostam de ver assim, algo de excitante deve despertar, certo?”

Fechou o registro do chuveiro e se secou vagarosamente. Olhou-se no pequeno espelho que Sebastião usava para fazer a barba, quase na ponta do pé e ficou com vergonha do que viu: seu sexo ficara muito exposto. Respirou fundo, lembrou-se de como contornou a timidez nos primeiros sábados, tratou de sorrir e continuou com o roteiro. Nua e cheia de si, Rosa caminhou do banheiro até a lavanderia. Andou de forma provocante, rebolando o quadril graciosamente e mexendo os ombros com calma para dar movimento aos seios. Bem quando atravessava a abertura da cortina e enquanto desfilava, ergueu os braços para ajeitar os cabelos e encolheu a barriga. Sentiu-se plena; uma deusa! Preferiu não ver se mais alguém havia se juntado a Roberto e Thiago.

Na lavanderia, Rosa pegou uma calcinha preta rendada no varal, vestiu-a e rumou de volta para o quarto. O caminhar continuava o mesmo, como se fosse em direção ao mar em uma praia de areia fofa. Desta vez, ao cruzar novamente a cortina, percebeu que ainda somente os dois compunham a plateia. “Bom, quem chegou cedo viu a surpresa que preparei hoje. Aposto que, quando os outros souberem, aparecerão mais cedo semana que vem!”

No quarto, pegou o sutiã que fazia par com a calcinha, uma peça tão provocante quanto a outra, agarrou o pote do óleo de essências e partiu para a sala. Ao voltar, notou que seu público havia dobrado, incluindo o filho mais velho da Lucinda, mulher que limpa o escritório onde Rosa é copeira. Não ligou para os problemas que isso poderia dar, pois o sábado era dela!

Estrategicamente de costas para seus admiradores, no lugar em que eles poderiam vê-la melhor, Rosa despejou um pouco de óleo sobre a mão e começou a espalhá-lo sobre a perna que apoiara sobre o sofá. Em movimentos de sobe e desce, ela deslizava as mãos sobre a pele, rebolando de forma provocante, até mesmo sem se dar conta que um pouco da flacidez dos glúteos ficava evidente no gingado. Trocou de perna, mas manteve a atuação.

Finda essa parte, Rosa encolheu novamente a barriga, virou de lado, pegou mais uma porção do óleo e começou a passar no peito e no abdômen. Girava a cabeça junto com as mãos, em um balé corporal provocante, mas que beirava a ingenuidade pela falta de sincronia. Este movimento era mais estratégico porque, sempre que podia, fitava rapidamente o lado de fora para acompanhar seus fãs. Nenhum dos quatro piscava, muito menos fazia questão de disfarçar agora!

Como sempre fazia em seu grand finale, Rosa virou de frente para a janela. Olhos fechados para não intimidar os admiradores. Com o pote de óleo de essências na mão erguida, ela deixou dois pingos caírem entre os seios, no decote formado pelo esforço que o sutiã fazia para segurar duas mamas maiores que seu tamanho. Com a outra mão, Rosa espalhou o líquido em movimentos circulares por dentro dessa peça íntima, sentindo os mamilos nas pontas dos dedos, mas sem mostrá-los. De súbito, escorregou a mão através da barriga sedentária que tinha (mas, de forma alguma, feia), meteu-lhe dentro da calcinha e, no mesmo movimento ligeiro, tirou-a. Sorriu…

Abriu os olhos lentamente. Roberto fingia ajeitar DVDs piratas na estante de sua sala. Thiago jogou-se para trás de susto, pelo que se ouviu um barulho de cadeira ou banquinho caindo no chão. O terceiro rapaz, novo no condomínio, mexia em seu celular. O filho da Lucinda, contudo, estava estático. Boca aberta, sorriso embasbacado, ainda sem piscar e olhando a janela de Rosa. Ela devolveu o olhar e cochichou: “Até semana que vem…”. Fechou a cortina por completo vagarosamente e foi para a cozinha preparar o purê de batata do Sebastião.