Há oito dias não saio de casa, sentado nesta cadeira que coloquei em frente à porta para te esperar voltar. Confesso que não acreditei quando você saiu com as duas malas e a bolsa a tira-colo, dizendo que iria para um hotel qualquer. Você já tinha ameaçado sair antes, mas sempre citava a casa da sua mãe como destino. Eu devia ter desconfiado…

Já fiz tudo o que um idiota faz nesse tipo de separação: fiquei horas olhando no computador as fotos das nossas viagens e passeios, resgatei nosso álbum de casamento e sou capaz de descrever cada uma das fotografias, busquei por vestígios de roupas suas esquecidas e a única peça que encontrei foi uma blusinha amarela, que trago enrolada na minha mão para sentir seu cheiro.

Também já quebrei algumas coisas, principalmente aqueles pratos horrorosos que sua avó nos deu de presente quando fizemos dois anos de casados. Fiz questão de queimar no tanque as molduras e pinturas que você me fazia comprar naquelas exposições estranhas que íamos por sua causa.

Estou bêbado agora! Abri tudo o que tínhamos no bar e misturei; bebi em um gole (ou dois?). Mal consigo me levantar desta maldita cadeira! Por que você não entra?

Obviamente, o celular você não atende. Não sei se você desligou ou trocou o número, mas nem tom de chamada eu ouço, apenas a mensagem da caixa postal . Mandei talvez centenas de mensagens, mas sem esperança de receber resposta.

Uma ideia estúpida me passa pela cabeça. Vou colocar todas as peças de roupa de cama que já dividimos sobre o sofá e atear fogo. O vento que entra pela sacada leva embora a vontade que sussurrava essas asneiras em meus ouvidos.

O peso do mundo parece estar apoiado sobre meus ombros. Não que eu o tenha puxado para mim, não que alguém o tenha colocado, mas não ver seu sorriso nem sentir seu cheiro e seu abraço me torna o Atlas em pessoa.

Vou dormir agora. Mas não em nossa cama, não em nosso quarto ou sobre o nosso sofá. Vou ficar como estive nos últimos dias: enrolado em um edredom próximo à porta. Sei que você não vai abri-la, mas se apenas a sua memória vier me visitar, mesmo que ela entre pelas frestas, eu vou agarrá-la e nunca mais soltar, até que vivamos felizes para sempre.

“Eu sei que você quer viver comigo outra vez; que você quer viver ao lado meu até a luz do Sol se apagar…” – Fresno