Um corpo gordo e suado roçava-se sobre o de Ana Paula. Deitada nua de costas sobre uma cama de casal ordinária, pernas abertas em arco, gemendo forçosamente fingindo gostar daquilo, a garota aguardava impaciente o homem sobre si encerrar o movimento de vai-e-vem de dentro de si para poder receber seu dinheiro e deixar aquela agonia. Poucos instantes depois, o pacote de banha rolou satisfeito para o lado, movimento precedido por um grunhido animal e frases que ele acreditava serem elogios à moça.
Como não havia nem tirado a sandália, Ana já estava de vestido e retocando a maquiagem enquanto o roliço permanecia pelado, espalhado na cama, exaltando o corpo da jovem e fazendo confissões que pouco interessavam a ela, de como ele conseguia acesso fácil às senhas de redes sociais das que trabalhavam com ele e baixava para si as fotos delas de biquíni, que elas mantinham bloqueadas.
Tendo acabado o tempo que precisava permanecer ali, Ana Paula apenas aguardou que o homem se vestisse e voltou para o salão principal. Lá, seus olhos percorriam os rostos dos presentes em busca de alguém específico, apenas para constatar que ele ainda não estava lá. Era quinta-feira e o horário costumeiro de ele aparecer se aproximava. Ela ainda recusou duas ofertas para ir para o quarto antes de vê-lo entrar.
Ana sentia que ele tinha se arrumado todo para ela: a camisa justa que ela tinha comentado que caia melhor no físico dele, o sapatênis ao invés do sapato, o cabelo penteado para trás no lugar de penteá-lo de lado. O rapaz seguiu direto para o balcão, sentou-se em um banco e pediu uma bebida, aparentemente indiferente ao fato de ser alvejado sem discrição pela garota. Impaciente, coração palpitando, sorriso verdadeiro fingindo sem sucesso ser um sorriso falso, Ana Paula caminhou pelo salão como se desfilasse e se fez notar pelo recém-chegado. Este apontou em sua direção e bateu duas vezes com a mão sobre a coxa, chamando a moça para sentar em seu colo. Encenando muito mal uma indiferença, como se não tivesse provocado toda a situação, ela obedeceu e se aconchegou nas pernas do rapaz.
Poucas palavras foram de fato trocadas; era mais Ana tagarelando e Paulo ouvindo (ou fingindo muito bem) entre um gole e outro das duas doses de uísque que tomou. As mãos dele passeavam pelo corpo todo da garota, um cego lendo em braile nas curvas sensuais mantidas por horas diárias de academia. Nem duas dezenas de minutos separaram a primeira palavra dita por ela a ele e o pedido do rapaz de que fossem para o quarto. Ela obedeceu sem hesitar ou discutir valores com ele.
Após o sexo, em que ela se esforçara para agradá-lo e, pela expressão que via, sabia que tinha conseguido, Paulo sentou-se ainda nu sobre a cama e tirou uma pequena caixa de veludo do bolso da calça que pendia na quina do criado-mudo. Ana, deitada de bruços, o corpo bronzeado em evidência pela luz amarela da lâmpada incandescente, sorriu ao ver o presente, mas não se mexeu.
Como um carrinho em miniatura, Paulo arrastou a caixinha de toque macio desde a parte de trás da coxa da garota até sua nuca, trilhando uma serra sinuosa e ondulada pelo desenho escultural de Ana. Esta se arrepiou toda quando o passeio do brinquedo estacionou na parte de trás do pescoço e tomou sutilmente a caixa da mão dele. Quando a abriu, o brilho magistral do par de brincos de pedras vermelhas entrou pelos olhos e invadiu seu ser.
– Gostou? – perguntou Paulo, com seu jeito pouco empolgado de falar.
– Amei – respondeu a voz fraca e emocionada da garota, sem se mover, mantendo a atenção visual sobre a joia.
– Experimente! – continuou ele, – Quero que você os ponha e desfile para mim usando apenas eles.
O pedido foi atendido com prontidão. A felicidade que emanava de Ana era sentida de longe, saindo pelos poros, pelos olhos e pelo balanço dos cabelos.
– Minha flor… – Paulo abaixou a cabeça por alguns segundos, mas ergueu-a antes de continuar – A transferência para Porto Alegre ainda não saiu. Eles tinham me prometido até o fim deste mês, mas acho que vão precisar postergar um pouco para até o fim deste ano ou o começo do ano que vem. Mas minha promessa de te levar comigo permanece…
O desfile minguou e Ana voltou para a cama, deitando com a cabeça apoiada na coxa dele. Os olhos fixaram-se em um canto e os lábios esforçaram-se para permanecer contentes.
– Tudo bem, Paulo. Eu entendo…
Ele deu um beijo em sua testa, levantou-se colocando um travesseiro embaixo da cabeça dela e começou a se vestir. O único movimento que se via nela era o peito subindo e descendo com uma respiração profunda.
– Já me vou… – E, antes de sair, deu-lhe o beijo rápido na boca.
– Eu te amo, filho da puta! – disse quando ele fechou a porta e já não podia mais ouvir. Tirou os brincos, guardou-os na caixa dentro da bolsa e se aprumou para voltar ao salão. Horas depois, Ana estava de novo nua de costas sobre a cama, deixando o corpo ali para ser usado enquanto a mente buscava a vida perfeita com Paulo no sul do país.