A academia Superação passou a ser a segunda casa de Lindalva após seu marido ter sugerido que ela estava gorda. Provavelmente ele fez algum comentário sobre celulite, estria ou a apertou naquela lateral, o fatídico lugar onde a gordura localizada adora se infiltrar e olhar para a cara da mulher em tom de desprezo. Como é de se imaginar, ele não teve nenhuma intenção de ofender ou fazer menção do peso dela. Ainda assim, no dia seguinte ela fez a matrícula.

Aos 38 anos, Lindalva era uma mulher comum. Não tinha mais nem a vitalidade e nem a juventude de seu corpo aos 20 anos, de que se orgulhava e exibia em biquínis quando ia à praia na época de faculdade. Tampouco passou a ser feia, enrugada e caída, mas não se destacava mais na multidão, não recebia olhares de homens na rua (exceto daqueles que se excitam até com cachorros cruzando), não provocava a inveja das mulheres a sua volta.

Linda, como preferia ser chamada sem modéstia nenhuma, fazia todas as aulas a que tinha direito. Saía correndo às 17h56 da loja em que trabalhava, pontualidade britânica, ia para casa à pé (para adiantar o aquecimento, pensava ela), tomava seu shake pré-treino indicado por uma amiga e voava três quadras para baixo, onde ficava a Superação.

Conversava, fazia amizades entre uma série e outra, puxava assunto com os professores. O que mais chamava sua atenção era o Rodriguinho, o novo instrutor. Rapaz jovem, músculos torneados, sorriso encantador, voz de homem formado. Se pudesse chutar, diria que ele não tinha mais de 25 anos. Em um impulso adolescente e despretensioso, aliado a mais de uma década de experiência a frente do rapaz, Linda decidiu que queria ser notada por ele.

Todos os seus exercícios, coincidentemente, eram em máquinas ou equipamentos próximos de onde Rodriguinho estava. Nas aulas de spinning, que ele passou a liderar, ela fazia questão de participar, mas pegava discretamente apenas as bicicletas do fundo. Das dúvidas que tinha sobre como fazer um movimento ou medir a carga a ser levantada, uma era sanada por um professor qualquer, outra necessariamente era perguntada ao rapaz.

Linda não contava, porém, com a preferência dele por mulheres mais velhas. Evidentemente ele percebeu a movimentação que fora feita, as perguntas técnicas cujas respostas ele tinha certeza que ela já sabia, a aliança dourada que ela trazia na mão esquerda.

Depois de semanas analisando a situação, em uma das oportunidades Rodriguinho aproximou-se enquanto Linda malhava os glúteos. Usou uma das mãos para agarrar a coxa da perna que subia e descia, segurou o tornozelo da mesma perna com a outra mão e espontaneamente a auxiliou a corrigir o movimento. Mesmo na posição ingrata do exercício, que a colocava apoiada sobre os cotovelos e os joelhos de forma levemente sugestiva, ela virou somente a cabeça para trás buscando com os olhos quem estava ali. Viu o rapaz, que apertou com mais vigor a coxa dela quando houve o contato olho no olho. Linda corou, sorriu, mas não protestou. Na verdade, voltou a cabeça para frente e empinou mais a bunda. Terminou a contagem e agradeceu a ajuda. Saiu da academia correndo, sem terminar o treinamento do dia e sem saber o que fazer com aquela investida. A única certeza que tinha naquele momento é que havia gostado daquilo…

Dia após dia, Linda era “auxiliada” de alguma forma por Rodriguinho. Os pontos de apoio das mãos eram escolhidos estrategicamente, sempre apertando com mais força do que a situação exigia. Às vezes, Linda deixava escapar silenciosos ‘ais’, seguidos de uma troca de olhares e sorrisinhos nada inocentes.

Por não contar com o fato de que as notícias no bairro correm mais rápido do que se espera, Lindalva não sabia que Alecsander (ou Alex, como ele preferia simplificar), seu marido, ficara sabendo das aulas quase particulares que sua mulher recebia. Também não passou por sua cabeça que ele já ficara sabendo que toda quarta à noite ela ia se exercitar de outra forma com seu personal trainer.

Dividido entre seu amor de longa data por Lindalva e o ódio que crescia em seu coração, Alex decidiu se vingar. Toda vez que os dois saíam para a festinha particular, ele seguia o carro a uma distância segura. Entrava no mesmo motel que o casal, instalava-se na suíte vizinha de parede e se punha a ouvir os gemidos da relação infiel que sua mulher estava tendo. Ao mesmo tempo, exigia que a prostituta que levara consigo fizesse menos barulho possível enquanto também faziam sexo.