Alô, César?! Sou eu, a Bruna… Não, não desligue! É importante o que vou falar desta vez. Prometo não chorar e gritar como das outras vezes… Obrigada.

Já faz cinco meses que você me deixou e eu não superei. Não, calma! Não vou começar aquela história de “volta pra mim”. Eu te disse que esta ligação não é para fazer lamentações; na verdade é para lavar minha alma desse limo que grudou durante o período em que mantive os olhos úmidos demais.

Não é segredo para ninguém que eu ainda te amo, e o amor é esse sentimento solitário e perverso que não exige retribuição para existir. Ele é o passaporte para a alegria quando é recíproco e o caminho para a dor quando não é correspondido. Serve de vetor para a raiva ou o êxtase, ele mesmo tendo sempre um companheiro sem que quem o sente tenha necessariamente esse direito.

Hoje, tudo lá em casa me faz lembrar de você. Não há um cômodo em que eu não te veja zanzando de cuecas com um copo de água na mão, um lugar em que não me faça pensar nos amores que fizemos, um maldito canto em que não me venha à cabeça nossas brigas. Ontem mesmo encontrei caída atrás do armário uma edição do ano passado daquela revista que você assinava e largava em qualquer lugar depois de ler.

Como é?… Ah, sim! OK, me desculpe pela divagação. Vou direto ao ponto: estou me mudando para o interior. Vou ficar um tempo com minha madrinha na casa dela até melhorar a cabeça, já que meu coração não tem mais solução. Levo todas as minhas coisas comigo: roupas, sapatos, memórias, maquiagens, angústias, CDs, DVDs, livros, cartas de amor e presentes que você me deu.

Ah, obrigada! Não vou precisar de carona pra rodoviária. Aliás, é até melhor que não nos vejamos mais por esses tempos. Quem sabe até por todo o tempo… Mas, antes de partir, queria te deixar alguma coisa e só consegui pensar em uma: tristeza. Quero que ela te lembre a cada vez que você acordar que estou deixando uma vida para trás por sua causa; que ficarei eternamente procurando você em outros homens, seus beijos em outros lábios, seu toque em outros braços, seus amores em outros corpos.

Ao se deitar, a tristeza vai te sorrir com melancolia e te abraçar junto com os lençóis, pois você vai saber que estarei a centenas de quilômetros de distância abraçada com nossa foto de dois anos de namoro, a mais bonita em que nós dois estamos juntos. Todo ápice de alegria que você tiver será seguido de um vale de pesar ao saber que um sorriso honesto e verdadeiro nunca mais aparecerá na minha boca porque é insuportável viver sem você.

Sim, estou lendo isso. Escrevi ontem antes de dormir, porque o peso em meu peito me tirava o ar e o sono. Você sabe que, se for pra eu ser espontânea agora, não vou dizer uma só frase que faça sentido.

Não se justifique, por favor! Vamos acabar visitando os mesmos argumentos e lugares comuns que você tenta me mostrar desde que foi embora de mim. A ligação é só para eu ter certeza de que, se não poderemos estar ligados pelo amor, estaremos juntos na sutil agonia de sermos tristes.

Preciso ir agora; o táxi chegará a qualquer instante. Adeus, amor! Um beijo…