Quando eu ouvi pela primeira a frase “Existem coisas piores que a morte!”, confesso que não duvidei. Dor forte e prolongada, como tortura ou uma doença terminal, por exemplo, são exemplos que pularam na minha mente na hora. Também pensei em alguém em estado de incapacidade física, mas complatamente são da cabeça, como aquele físico famoso que é todo torto e paralisado, mas extremamente inteligente.

Mas o que dizer, então, de um estado intermediário, em que a morte não é certeza, em que a dor aguda aparece e some quando quer, durando o quanto deseja, em que um dia se consegue ir à pé ao centro da cidade e outro não se é capaz de sair da cama? Essa incerteza é pior do que as constâncias que citei acima, e isso eu falo por experiência própria. A esperança, que é a mola propulsora de todas os seres humanos, vira o veneno que corrói a vontade de viver.

Há pouco mais de quatro anos, eu era gerente de operações de uma empresa de logística aqui perto, trabalhava umas 10 horas por dia, jogava bola de sábado de manhã e corria com minha mulher no parque de domingo antes do almoço. Nunca fumei e bebia dois chopps no máximo quando saía. Até que um sangramento no nariz recorrente e uma dor de cabeça estranha me fizeram procurar um médico.

Cinco doutores diferentes e um carro vendido para pagar exames, até que obtive o diagnóstico: sua doença é rara e desconhecida! Até me indicaram uma faculdade estrangeira que estava interessada em estudar meu caso, mas preferi ficar em casa, tratar os sintomas com os remédios convencionais (e nem sempre baratos) e esperar a morte. Para meu azar, ela ainda não veio, nem parece me querer tão cedo.

Quando estou em um dia bom, ninguém é capaz de afirmar que estou doente. Minha aparência é idêntica àquela que eu tinha antes dessa desgraça aparecer, à exceção de uma olheira permanente. Quando dura mais do que três dias, até eu acredito que vou sarar.

Entretanto, os dias ruins são péssimos. Hematomas começas a aparecer nas extremidades e nas dobras, como axilas, pescoço, joelhos e cotovelos. Eu vomito a cada duas ou três horas, independentemente de ter algo no estômago ou não. Só tenho dor quando respiro…

O mais difícil de suportar, contudo, é a forma como minha mulher me vê nesses dias de baixa. Seu olhar de piedade misturado com uma vontade de não estar ali me queima a alma, cada célula do meu corpo ardendo, sem que eu tenha forças para apagar as chamas. Não me sinto no direito de querer que ela fique comigo, que me acompanhe nessa caminhada perdida, neste túnel claustrofóbico e sem luz.

Relutei em começar a frequentar um psicólogo, não só pelo desperdício de tempo com alguém que não sabe pelo que estou passando e vem querer aconselhar quanto pelo dinheiro jogado fora com isso, sendo que mal consigo bancar os remédios e o plano de saúde. Ele sugeriu que eu começasse a escrever sobre a minha miséria e cá estou eu, a me lamentar em frente a uma tela fria e sem vida, que me encara com indiferença pior do que o ódio com que a olho inicialmente.

Se alguém estiver lendo esse monte de baboseira, saiba que é real. Mas não sinta pena, ou tenha compaixão, ou queira me conhecer para chorar ao meu lado. Nem sequer tente entrar em contato comigo… Aguarde ansiosamente o próximo texto-desabafo-terapia e, se quiser saber mais, faça ao contrário de mim e torça para que eu viva mais um dia.