Ai, cacete de chave que não entra na porra da fechadura. Vou trocar essa merda amanhã, certeza! O foda é que se eu tocar a campainha e acordar as crianças ela me mata! Vou insistir mais um pouco…
Porra, se a vizinha do 32 não fosse tão fofoqueira dormia aqui na porta mesmo, do lado de fora. Mas minha mulher me mata se ouvir aquela vagabunda comentando que eu dei vexame, que sou isso e aquilo. Opa! Aleluia, ela veio abrir a porta pra mim! Pelo visto, é verdade que Deus protege os bêbados…
– Oi, amor! Obrigado, viu. Me espera no quarto que vou tomar uma água e já te encontro lá…
Malandro, está tudo rodando aqui! Sei nem abrir essa torneira do filtro, o copo d’água vai ficar pra amanhã. Vou é dar um trato na patroa pra ela não ficar puta comigo amanhã… Só vou dar um tempo aqui no sofá pra conseguir tirar o sapato.
– Eita, o que…? Ah, é você, amor? Você trouxe o pijama? Valeu, vou vestir aqui, espera… Ai, nossa, peraí, está bem, me ajuda então, vai…
Porra, não tem como querer outra vida. Uma mulher que sabe que eu estou bebaço e ainda me ajuda a por o pijama. Três filhos lindos e saudáveis: uma princesinha, um bom de bola e um que pelo visto vai virar doutor, de tanto que lê aquele menino. Uma casa nossa, que a mulher cuida melhor que qualquer uma, emprego bom e um boteco de sexta a noite…
– Amor, tem como me dar uma mão aqui? Esse sofá está me puxando de volta quando tento sair dele, hahahaha.
Rapaz, vou te falar: se pudesse ia dormir direto, estou estragado. Ainda mais depois daquela gostosa do Rodeio’s, que me deu um trabalho danado! Olha, não é que eu traia minha mulher, mas não dá pra colocar a mãe dos meus filhos de quatro e descer-lhe a mão aberta naquele rabão, muito menos pedir pra ela fazer o que a Michele faz sem que eu abra a boca, sabe? Porra, é ela que cuida da casa, de mim e das crianças! Eu não tenho coragem, e um homem tem suas necessidades. É isso, só necessidades! Eu ainda amo minha pretinha.
– Nossa, amor! Adoro quando você põe essa camisola quase transparente. Me deixa cheio de vontade, sabe?
Cara, agora eu preciso cumprir meu dever, sabe como é… E, se tudo der certo, ainda consigo que a patroa não encane que eu vá ver o futebol no bar no domingo.