Ele andava pelo canteiro central da avenida movimentada com as mãos no bolso. A chuva caia sobre sua cabeça e seus ombros sem violência, mas constante.
Então palavras como granizo começaram a despencar e o acertar de forma impiedosa. Não havia cobertura; não havia árvore, toldo ou ponto de ônibus. Só o chão e sua pele escoravam as pedradas.
O estômago retorcia-se com a batalha entre a comida e os sapos engolidos. Ele não sabia se estava enjoado disso ou da vida.
Tremia. Bastante. De frio, de raiva, de medo, de ânsia. Os motoristas dos carros que passavam ao lado fitavam-no, como quem avista um animal em um zoológico. Eles em latas e o rapaz do lado de fora, um safári bizarro, cuja atração é o estranho.
Ele começou a correr, pelo que as pedradas aumentaram de intensidade. Os olhares se intensificaram. Gelo e borboletas se somaram aos ocupantes de sua barriga. Seu olho vertia águas de chuva e de pânico. Trovões. Mais trovões.
Aí um raio o atingiu. O corpo se retorceu e desligou…
Ele acordou um tempo depois, mas não soube precisar quanto. O céu ainda estava nublado, mas não havia sinal de chuva, nem no chão, nem em suas roupas. Curiosos em roda começaram a se afastar para dar espaço pra ele se levantar, enquanto cochichavam entre si questões sobre o que teria acontecido ali. Sem olhar-lhes no olhos, o rapaz bateu a poeira do corpo, meteu as mãos nos bolsos e seguiu a caminhar, sentindo como se tivesse acabado de acordar de um terrível pesadelo.