Você conhece ao menos três pessoas que já pensaram seriamente em suicídio. Isso é uma afirmação.
Sabe qual é a maior preocupação de quem tem depressão em estágios intermediários? Não transparecer. Não deixar que os outros saibam. Porque não é todo mundo que entende, compreende, empatiza. “É frescura!”, “É falta de trabalho, de ter com o que ocupar a cabeça!”, “Mas Fulano tem de tudo, uma vida ótima, não tem motivos para estar assim!”. E sem saber, quem fala isso mais piora do que ajuda. Aí é melhor esconder mesmo, colocar uma máscara de felicidade e sofrer sozinho.
O depressivo, ao contrário do que o senso comum pode levar a crer, não é só o ser humano triste, enfurnado em casa no escuro, olhando para o nada em silêncio enquanto o dia passa na janela. Esses COM CERTEZA estão depressivos, inclusive pedindo ajuda com o pouco de forças que têm. Mas sabe quem mais pode ter depressão? O ator engraçado, astro de filmes de comédia, chafariz de alegria para a plateia em polvorosa. Descanse em paz, Robin Williams. Aquele líder espiritual que cura a alma de multidões em nome de Jesus, com muita maestria. Deus te guie, padre Marcelo Rossi. O jornalista dedicado, genial, referência para a profissão. Um abraço para Jorge Pontual.
Então, quem sabe aquele seu amigo engraçadão, que de tudo faz piada, que leva a vida leve e sem preocupações não esteja simplesmente tentando fugir do peso que é levar a vida no dia-a-dia? Ou seu primo comilão, orgulhoso de devorar meia pizza em 10 minutos, astro da arte de engolir o que vê na frente, que pode estar descontando as frustrações e fontes de tristeza em um bom prato de comida? Talvez sua irmã, seu marido, a pessoa ao alcance de um braço…
Antes da paranoia bater à porta e a gente achar que todo mundo parece estar a um passo de entrar no vale das trevas, sugiro uma reflexão. Vamos falar mais abertamente sobre depressão. Sobre sentir a diferença entre uma tristeza passageira e uma tristeza permanente. Vamos nos abrir mais para ouvir e também para falar. Encontre pessoas de confiança e fale de como se sente. E se você for a pessoa de confiança escolhida, ouça com atenção e empatia, despida ao máximo de preconceitos. Você pode estar salvando uma vida.
Para quem não se sente à vontade para se abrir com ninguém, procure o CVV (Centro de Valorização da Vida – disque 188 ou acesse o chat no site). Assim que possível, procure apoio médico e psicológico, no profissional particular, no plano de saúde ou no SUS. Verbalizar as aflições ajuda bastante.