Morte. Substantivo. Sinal de que define alguma coisa. Tem pessoas que dizem que é uma passagem. Outras que dizem que é o fim de um estágio intermediário, vivido na Terra. Uma viagem, um descanso. Gosto da definição filosófica de que é a ausência de vida, deixando para um momento posterior a caracterização do que é “vida”.
A morte é a única certeza que temos, fim inexorável da trilha cotidiana. Ainda assim, é um tabu para muitas pessoas. Ninguém fala sobre a morte. Uma infinidade de eufemismos amenizam a verdade crua de que nunca mais veremos aqueles que se foram. Não estou aqui para discutir vida post mortem, mas o fato indiscutível é que não se terá mais contato com o corpo falecido.
Hoje minha avó paterna faleceu. Morreu, como prefiro. Há alguns anos, era meu avô paterno. Pouco mais de 15 anos atrás, eram meus avós maternos, estes em um intervalo de menos de 3 meses entre si. Eu sinto grande saudade dos quatro, mas em meu âmago não creio em vê-los novamente. Nunca mais. Nem em vidas futuras, nem no Céu, reincarnações, contatos espirituais, nada. E o que fica é a saudade…
A morte é a evidência máxima de que não somos habituados a cultivar a saudade como algo que pode ser positivo. Lembrar com carinho de uma cena, uma frase, um momento, entristecer-se com dignidade e se recolher em contemplação e memória afetuosa. A tristeza em excesso é nociva, mas tudo em excesso o é, até a felicidade, perigando tornar-se êxtase, vício, egoismo.
A morte é o apogeu da tristeza. E a tristeza é um sentimento pouco explorado por nós. A tristeza saudável é a abertura das portas do ser para o afeto e a empatia. A criatura mais durona do mundo se dispõe a um abraço na tristeza. O rochedo impenetrável se trinca e escorre em lágrimas ao se entristecer, pedindo sem palavras por um acolhimento, por um ombro, por um acalento.
Eu tive que, a duras penas, aprender a conviver com a tristeza; a minha e a daqueles de quem eu amo. Fechar a boca e abrir os braços. Aquecer o coração para receber um fragilizado e resfriado. E também a abaixar a guarda e deixar o choro soluçar e descer líquido pelo rosto.
Neste meu primeiro Dia dos Pais do lado dos congratulados, te convido a amadurecer junto a compreensão da morte (sem atalhos) e a aceitação da tristeza como peça fundamental do dia-a-dia. Minha avó teve uma vida digna. E vou me lembrar dela com saudade e tristeza sadias.