Bárbara não fala. Bárbara come, muito. Come quando tem o que comer e pede comida sempre que possível. Ver Bárbara comer é um misto de contemplação e ansiedade, tamanha a voracidade com que ela devora o que vê que dá para engolir. Eu gosto de ver Bárbara comendo, mesmo que seu esgano soe ofensivo aos olhos não treinados a enxergar que o que ela faz simplesmente é a absoluta entrega ao prazer glutão.
Bárbara não fala. Bárbara dorme, muito. Ela deve dormir mais de 12 horas por dia, todo dia. É ver um colchão, uma cama ou um sofá que ela se joga aconchegante, esparramada, dominadora de toda a maciez disponível. Na verdade, Bárbara dorme até no chão duro, principalmente em dias de calor. E sonha, e ronca, e tem pesadelos, e resmunga enquanto dorme. Também gosto de contemplar Bárbara dormindo.
Bárbara não fala. Bárbara se comunica pelo toque. Ela se projeta em você na alegria, se encosta na calmaria, te conforta na tristeza. Dentro da sua capacidade, ela lê a conjuntura e se pronuncia sem palavras, mas com tato.
Bárbara não fala, mas sabe ouvir o que os corações dizem. Quando eu caminhei pelo vale da sombra da morte, Bárbara se deitou ao meu lado, em silêncio, vigilante. Sentiu minha dor sem que eu houvesse reclamado e se compadeceu. Acompanhou meus passos até o sol nascer. Nos adotamos desde então.
Bárbara não fala, então ela não vai se despedir. Eu sei que ela está indo embora e quando for será sem avisar. Quando ela sair pela última vez pela porta, um pedaço de mim irá também e eu estarei um pouquinho menor, incompleto, vago.
Gostaria de acreditar que Bárbara sente por mim o que eu sinto por ela.